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Clóvis Medeiros:”Eu vi um Sabiá Albino”

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Por Clóvis Medeiros

Deveríamos festejar todos os dias o milagre de estar vivo. Porque estando vivo presenciamos milagres da natureza a cada momento. Sou um caminhante. Movimento o esqueleto todos os dias, andando pela cidade, pelo Parque da FICAT, ao lado do Mato do Busque. Sou indenizado com o espetáculo que os passarinhos me oferecem. Sou um observador de aves. Agora é tempo de quero-queros novos, filhotes são vistos no Parque, se adaptaram aos humanos, chegam e deixam chegar perto. O horário em que os passarinhos mais se movimentam é das cinco horas até às nove da manhã. Temos aqui em Tuparendi uma pequena reserva da Mata Atlântica, uma miniatura florestal, o Mato do Busque. Ali é o refúgio, o abrigo derradeiro de nossa flora e fauna. Um patrimônio natural, um fragmento de natureza à disposição dos moradores. O baluarte da resistência, o último dos moicanos.

Há anos acompanho as discussões sobre o destino da nossa pequena floresta. Mil idéias, mil e um interesses, projetos, sugestões, algumas inteligentes, outras inexequíveis, utópicas.  De fato, nada mudou nos últimos cem anos. Um gráfico mostraria uma linha de evolução parada, sem curva, como um eletrocardiograma de um morto: não se mexe. Tudo continua como está, apenas o bosque vai, aos poucos, se deteriorando, sendo invadido. Aliás, muita coisa que já estava errada, piorou. Na minha longa vida participei de algumas audiências públicas para discutir o assunto Mato do Busque. Chegava ser risível ouvir alguns “Ministros de Assuntos de Baixa Intensidade”, deixando sua mensagem de inutilidade explícita. Nada de concreto evoluiu.

Quando alguma idéia surge, é barulhenta ao ser anunciada e silenciosa ao definhar. De minha parte vou continuar defendendo o que é mais sensato: a preservação do Mato do Busque, com proteção da fauna local. Que faça parte ao patrimônio público municipal. Temos ali várias espécies de aves. Eu nem imaginava que tinha tantas, umas comuns, outras mais raras, até em risco de extinção.  Ouvir o som das cantigas é indescritível. Às vezes se ouve apenas o canto, outras vezes se avista a ave. É sempre um espetáculo. Nesta época, a maioria está criando seus filhotes, outras ainda fazendo seus ninhos, carregam grãos, caçam insetos, treinam os filhotes a darem seus primeiros vôos. Uma das aves mais lindas que temos aqui é a Alma de Gato. Além do Sangue de Boi, nunca esquecendo dos Tucanos, Pica Paus da cabeça vermelha e tantos outros. No gramado do Parque perambulam os quero-queros, bandos de caturritas, sabiás da praia, canários da terra. Como as árvores se agarram às suas últimas folhas os pássaros se seguram ao seu último habitat.

Assim, ouvindo o som dos cantos, silencioso, observando, caminhava à beira do bosque quando algo me chamou a atenção. Era uma ave completamente branca que se movimentava, procurando insetos, à beira do caminho. Ao lado, pulava, frenético, um Sangue de Boi com sua inconfundível plumagem vermelha. Diminuí as passadas para reconhecer o pássaro branco. Cheguei relativamente perto. Não era arisco. E aí a surpresa. Em tudo ele lembrava um sabiá. O mesmo estilo de caminhar, levantar a cabeça. O que o diferenciava era a cor das penas. Completamente branco. Não se assustou de mim.m Fiquei longo tempo o observando. Prossegui a caminhada e ao passar novamente pelo local, lá estava ele em sua missão de caçar insetos para o desjejum. Vou pedir socorro a algum ornitólogo para tentar identificar esse raro morador do nosso mato.

Clóvis Medeiros:"Eu vi um Sabiá Albino"

 

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