Em um terreno baldio, entre a Rádio Mauá e o prédio dos Correios, em Tuparendi, está um Pinheiro brasileiro ou Pinheiro do Paraná, abatido, apodrecendo. É uma imagem degradante, um tributo aos desafetos da preservação ambiental. Sempre que passo por ali, sinto um incômodo, uma sensação desagradável. Sou, por excelência, um preservacionista, moderado, detesto xiitas, exagerados, radicais. A história dessa árvore é “sui generis”. Em 1984, no dia 21 de Setembro, dia da Festa Anual das árvores, o então Prefeito José Antonio Grando, mandou colocar uma placa em homenagem à árvore, declarando-a imune ao corte. Naquela semana o município desenvolveu atividades de cunho ambiental como oficinas, palestras, distribuição de mudas de árvores nativas nas escolas, visitas ao viveiro municipal, concurso de redação. Com esse simbolismo, e essas ações, homenageava-se todas as árvores do município, em mais um gesto de respeito à natureza, antes, exuberantes. Lembro que falei com diversas testemunhas, antigos moradores, que lembravam do pinheiro já adulto, imponente, porte alto, 20 a 50 metros de altura, diâmetro invejável, uma conífera majestosa. Estima-se, segundo as ditas testemunhas, hoje falecidas, que o Pinheiro teria, quando foi homenageado, em torno de 150 anos. Um idoso respeitável.
A Araucária Angustifolia dura, em média, duzentos anos. É característica de lugares mais altos, climas mais frios. Por isso é vista na serra gaúcha, Estado do Paraná e Santa Catarina. É comum estarem em agrupamentos e não isolados. Quem costuma visitar a região das hortênsias, Canela, Gramado, Nova Petrópolis, “embebeda-se” com a paisagem majestosa dos pinheirais. Por lá eles são intocáveis. Preservados. São monumentos erigidos em memória de um passado. Há uns três quilômetros da cidade de Canela, sentido Parque do Caracol, existe um ponto de visitação, o Castelinho do Caracol. Construção de dois pisos, técnica de construção enxaimel, estilo arquitetônico alemão, todo em madeira de pinheiro brasileiro e que teria sido a primeira residência da cidade de Canela. Foi construída entre 1913 e 1915 por Pedro Carlos Frantzen que era serrador. O primeiro a desempenhar a atividade de beneficiamento de madeira. O curioso é que esse senhor, imigrante alemão, só utilizava árvores velhas, em fim de ciclo ou mortas. Foi o maior preservador dos pinheirais da região. Um exemplo de respeito à natureza. Então, as florestas nativas, formadas por pinheiros, pois a espécie é dominante, estão lá para nosso deslumbramento. Mais uma curiosidade do Castelinho. Como não havia prego a casa é toda feita com encaixes de madeira. Hoje está aberta à visitação.
Voltando a escrever sobre nosso finado pinheiro, fique claro que foi derrubado porque havia morrido, fim de ciclo e oferecia risco de tombamento sobre prédios que o circundavam. Ato plenamente justificado. O que não considero justo é permanecer exposto, se deteriorando, como um cadáver insepulto, num local de grande fluxo de pessoas, dando um aspecto de desleixo à árvore, mesmo depois de morta. Por favor, autoridades, retirem de lá aquele exemplar que foi símbolo de atenção de autoridades que se preocuparam com o meio ambiente.
Em diagonal ao nosso pinheiro está o nosso conhecido e simbólico Mato do Busque, uma pequena e magnífica amostra da floresta atlântica. Lamentavelmente muitas “lideranças” de Tuparendi lutaram para derrubar esse bosque onde implantariam um loteamento. Interesses econômicos sempre foram prioridades. Lembro que um defensor do desmatamento é um conhecido caçador, um predador ecológico. Certo dia, depois que os embates amainaram, perguntei se ele havia mudado de posicionamento. —-Hoje sou contra. Radicalmente contra.
Clóvis Medeiros