O mundo do trabalho passa por profundas modificações e atinge as formas de ocupação laboral. Os tempos mudaram e as empresas requerem mais capacitação dos funcionários. Novas tecnologias, máquinas modernas, novas linhas de montagem, novas demandas do mercado, aperfeiçoamento constante. Então, a formação técnica tem papel relevante. Não adianta a abertura de postos de trabalho se não temos trabalhadores qualificados. A baixa capacitação causa perdas individuais e coletivas, diminuindo a empregabilidade, as perspectivas salariais e a produtividade. Atualmente este é o grande gargalo que asfixia o avanço da industrialização no país.
O ciclo de industrialização no Brasil parou de se desenvolver porque não foi acompanhado por fatores essenciais para uma economia capitalista moderna. Um deles é a educação. Ao longo de décadas o Brasil conseguiu ampliar os anos de escolaridade da população, mas sem garantir qualidade, infelizmente, para padrões internacionais. E isso vale desde a base da pirâmide até os níveis superiores. O ensino fundamental é muito ruim, salvo exceções. A escola tradicional perdeu qualidade ao longo do tempo. O ensino superior precisa, urgentemente, ser repensado. Tenho a audácia de dizer que muitas faculdades estão mais inspiradas em interesses ideológicos do que na formação acadêmica dos seus alunos. O contribuinte paga um dos ensinos mais caros do mundo. Precisamos de acadêmicos qualificados, com preparo para o mercado de trabalho ou ativistas?
O diplomado precisa de habilidades aplicáveis à vida, não de abstrações. As empresas estão auxiliando na formação de pós graduados para que desenvolvam suas atividades a contento. Estão complementando o aprendizado, investindo numa qualificação profissional que deveria ter sido dada pela academia. Isto é trágico. Márcio Holland, professor da FGV, em artigo do dia primeiro de Maio, no Estadão, aborda esta temática com muita propriedade. Ele diz que os alunos estão desmotivados, não vêm atrativos na escola. Daí, milhares de alunos alimentam as cifras da evasão escolar, todos os anos. Quinhentos mil jovens abandonam a escola anualmente. Isto é sete em cada dez, índice que deixa o Brasil atrás da Nicarágua, Costa Rica, Colômbia, Venezuela.
Existe hoje no país uma indústria educacional. É um negócio que está crescendo, pequenas faculdades despreparadas, com professores pouco qualificados, vendendo diplomas inúteis, milhares se formando com habilidades limitadas. Não vamos culpar os alunos a responsabilidade do resultado final. Já ouvi uma narrativa criminosa, preconceituosa e covarde de um mestre que me disse que a culpa é dos jovens de hoje, que são medíocres, que teriam a memória pouco desenvolvida, pouca agilidade mental, que são insociáveis. Talvez os mestres fizessem uma auto reflexão e agissem mais e pensassem menos. O sistema de ensino no Brasil precisa ser repensado. Precisamos capacitar os alunos a enfrentar a vida real, sem utopias, na vida prática. Sem esquecer da formação integral dos alunos. Tudo é importante. Transmissão de conhecimentos literários, políticos, sociais, música, ginástica, filosofia. Mas é preciso se concentrar no essencial pois o acessório não nos habilita para o mercado de trabalho, cada vez mais exigente. Faço uma referência justa ao Sistema S. Oferece ensino de qualidade. No passado havia a visão de que a formação técnica era algo menor, não dava o status de uma Faculdade. No contexto atual o ensino técnico tem papel relevante, preparando o jovem para o mundo do trabalho.
Uma Universidade particular de nosso Estado pretende abrir mais três faculdades de medicina. O atual Ministro da Educação anunciou a abertura de faculdades e mais faculdades, Brasil a fora, liberar mais e mais recursos para as Universidades. Será que essa é a solução ou deveríamos aprimorar o sistema que já existe?
Clóvis Medeiros