Enquanto ouve o canto monótono dos grilos e das corujas, o Dr. Daltry Cardoso Teixeira reflete sobre a vida. Intensa vida, tão intensa que a imaginação de muitos curiosos não alcançam. Em sua fazenda, Coxilha Bonita, revive um passado glorioso, construído pela sua inteligência, capacidade de luta, perspicácia. É um dinossauro que conhece seu tempo, seu lugar. Ah, se pudesse engarrafar suas experiências para que outros que o sucederão pudessem tirar proveito delas. Porque a vida segue seu rumo e as gerações se sucedem. Tanto que escreveu um livro, autobiográfico, O Domador de Sonhos, no qual disserta sua trajetória percorrida por varias décadas. Com idade avançada, recomenda aos seus filhos: façam sua parte; eu já fiz a minha.
Talvez algum caminhante o veja sentado em frente a casa, quieto, pensativo e não lhe dê a devida importância. Mas a vida não é só aquilo que se vê. Nossas imperfeições, assim como nossas virtudes são intrínsecas a nós, ao mais íntimo do ser humano. Não são externadas. Dr Daltry, se me permite, o tomo como exemplo de um ser humano que já viveu muitos anos e viverá por muitos outros. Imagino quanta sabedoria armazenada nesse cérebro, quantas informações segredadas, o aprendizado de relações humanas, (o senhor fez amigos desde a infância, na Florida, até o adulto de hoje). Com o tempo a sociedade civil ao seu redor foi conhecendo suas muitas qualidades e seus escassos defeitos. Sentimentos característicos seus são marca registrada. Falamos de respeito, saudades, cumplicidade com a família, manias, gosto pelos animais, profissionalismo. Dizem que Santiago do Boqueirão abriu as cancelas num dia de lida com o gado e por lá escapou um guri que tinha uma astúcia tão apurada que um dia se tornou uma expressão no mundo jurídico. Contam que adorava atuar num júri. Ficava faceiro como pinto no lixo. Do nada criou momentos icônicos. Lenda viva. Com perspicácia, “enrolava”, confundia, seus oponentes que pareciam estar num baile de minhocas. Que o senhor consiga ser absolvido no STF celestial. Fale, conte suas histórias, escreva. O senhor tem mais passado que futuro, embora este seja longo. Quero estar presente no churrasco que o Jefferson fará para comemorar o centenário de Daltry Cardoso Teixeira, com o aniversariante presente. A expectativa de vida aumenta a cada dia.
Vivemos um processo célere de envelhecimento. Alguma coisa melhorou mas muitos obstáculos continuam. As empresas não contratam pessoas com mais de sessenta anos. E ninguém faz nada em relação a deixar os mais velhos “de fora” do processo produtivo. Quanto potencial estão desperdiçando! Não somos melhor que os outros mas temos uma criatividade moldada nos erros e acertos de toda uma vida. Temos muito a contribuir. Acreditem. Não vivemos de conceitos simbólicos, somos reais. O mais sentimental dos cronistas não acha a mínima graça quando observa desprezo pelos idosos. Não dar o devido valor aos idosos é desumanizar 20% da população do Brasil. Não quero encrenca com ninguém. Aliás, nem sei se deveria estar escrevendo. Meu velho pai, que nasceu, viveu e morreu no interior de São Francisco de Assis, inculto, lembrava sempre do que ouviu em algum lugar, sobre a sabedoria popular. —Sempre que contemplarem um velho de cabeça baixa, pensativo, meditativo, respeitem esse silêncio. Talvez ele esteja dando razão às afirmações de que Deus nos deu duas orelhas e uma boca para que ouvíssemos duas vezes antes de falar alguma coisa. Palavras são prata, silêncio é ouro.
Adoro a vida! Pouco importa que venha a velhice, cada vez mais acentuada!