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Clovis Medeiros: Enquanto isso na barbearia do Gasparetto…

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Estava no meu apartamento vazio, pensando, dizem que ficar sozinho faz bem à vida, traz felicidade. Na solidão, pensei sobre o que escrever, tentei de várias maneiras expressar o que queria dizer. Nada produzi de, pelo menos, razoável. De repente a solidão me doeu, me mostrou um quarto escuro onde nada, nem ideias, crescia. Então, de repente, não mais que de repente, diria o poeta, olhei pela janela, de onde avistei, em frente à Barbearia do Gasparetto, um grupo de pessoas que falavam alto e gesticulavam. Os mesmos de sempre:  Jovino, Renato, Pedrinho estofador, o Marinha. Frequentadores assíduos, sempre alegres, dispostos a rir das piadas do Jovino, se queixar do preço da carne, discutir política, futebol. Costumam sentar o pau no governo, seja ele qual for, rir até do que não tem muita graça. Dizem que os bons momentos costumam afugentar os maus momentos. Admiro esses sujeitos. Enquanto sorriem encontram o sentido da vida neste mundo em que ficamos aí, tontos entre milhares de conselhos de auto ajuda, buscando esperança e felicidades. O que impressiona no grupo é o bom humor. Fazem parte de uma confraria informal que se formou ao longo dos anos, desde que o Gasparetto trabalhava no prédio da antiga Estação Rodoviária de Tuparendi.

Desci às pressas a escadaria do prédio e fui até lá, em busca de recuperar a auto estima, o bom humor, a alegria de viver. Cheguei e me misturei na turma, interrompi a conversa, como de costume, exaltando meu candidato à Presidente. A maioria foi complacente comigo, devido a minha idade mas o  Jovino reagiu, me chamando de babaca, dizendo que eu era um fanático de direita e que o mundo precisava mesmo era de governos totalitários de esquerda, comunistas. O gritedo foi geral, as vozes se alteraram. Existem duas espécies de pessoas. As que gostam de política e as que fingem que não gostam mas gostam. O tom de voz se alterou, os ânimos pareciam exaltados, mas tudo não passava de uma encenação. Todos os dias acontece a mesma coisa. A discussão não passa de uma motivação para o Gasparetto abrir mais uma latinha de cerveja. Acabou no momento em que o Marinha disse que desejava para o candidato do Jovino que morresse eletrocutado com aquelas lampadazinhas trazidas do Paraguai. Risada geral. Marinha é o mais ilustrado do grupo, o culto, o saber em pessoa. Quando fala demonstra seu desenvolvimento intelectual. Todos se calam quando o Marinha fala.

A certa altura o Pedrinho estofador sugeriu que se fizesse uma carne assada e que houvesse um toque de gaita como fazíamos em outros tempos. Alguém disse:___ Mas tu toca mal, Pedro.___ Eu sei. Reconheço que meu problema é a bebida. Se não bebo tenho tremedeira, se bebo esqueço a afinação da gaita. Lembro quando foi a última vez que toquei. Foi na zona do meretrício e me falaram que quase morri, encharcado de cachaça e que terminei a noitada em coma alcoólica no Pronto Socorro, em Santa Rosa.

Ali se corta cabelo, se aposta no jogo do bicho, se ri muito  e se mente bastante. Como o espaço é pequeno, como uma lata de sardinha,  quase sempre fica gente do lado de fora, latinha em punho, cuspindo. Nisso, passa na calçada da frente uma guria, muito bonita, rebolando, desavergonhada, suscitando a imaginação das mentes mais perversas, atentando contra os pudores da família tuparendiense. Alguém falou: isso é uma barbaridade! Precisa rebolar a bunda desse jeito? O outro respondeu: porquê? Depois que o Faustão só fala em “porra meu”, “pentelho”, todos os dias na sala de todas as famílias não há nada mais o que fazer. Voltando a atenção à menina que passava, um dos presentes falou: ___Ela faz programa em Santa Rosa. O outro perguntou: trabalha na Rádio? Risos. Nem a pau, Venceslau. Ela é micro empresária. Usa aquela ferramenta como matéria prima, entendeu, Zé Bedeu? Um terceiro, seguro de si, com ares conspiratórios disse: nada disso. Ela é amadora, não cobra pelo serviço. Estou sabendo.

Pouco ou nada se aproveita das conversas mas se eu tivesse ficado em casa não teria argumento para escrever essa matéria!

Clovis Medeiros

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