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Crônica de Clóvis Medeiros: Divina gula

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A vida implica em certa organização, não basta nascer, crescer, estudar, trabalhar, envelhecer. Não adianta só nascer e morrer. É preciso interagir, participar da vida e não apenas vê-la passar, como escreveu recentemente Joaquim Ferreira dos Santos. Procuro estar de bem com a vida, sempre. E começo, ao fim dela, a fazer minhas escolhas alimentares que melhor satisfaçam minha gula. Isso também é qualidade de vida. Aliás, este é o sentido último da existência. Quanto mais interessante for a caminhada humana no planeta, melhor. A filosofia nos ensina de que a vida não pode ser menos interessante, tem que ser mais. E se aimentar bem nos proporciona prazer, bem estar. Mas comer bem é muito interessante, seja quando fizemos nossas refeições em casa ou quando comemos fora, coisa que agora passa a ser uma tendência bem mais rotineira.

Mas devemos nos informar para fazer nossas escolhas. Já fui vítima de comida ruim, restaurantes que nem deveriam funcionar, mau atendimento. Gostava de comer caldinho de sururu, cada vez que passava férias no Nordeste. Até que em Maceió, acabava de me lambuzar comendo duas xícaras do caldo, quando um cunhado que morava lá, me falou: não come isso aí. Vem do esgoto da Lagoa Mundaú, a cloaca de Maceió. Nunca mais comi caldo de sururu. E permanece comigo a tendência de assassinar o dono do bar que me vendeu, durante anos aquela “iguaria” derivada da excreção humana. Porque raios aceitamos, sem discutir, tudo o que nos oferecem? Porque cargas d’água, entramos no primeiro boteco para comer qualquer coisa, sem conhecimento da origem do que vamos ingerir? Se queremos um bom restaurante temos que acreditar mais na opinião de quem é amigo, próximo, que já frequentou aquele lugar. Quer jantar fora? Esqueça guias, não se influencie pelos anúncios midiáticos, pela fachada do prédio. Vá naquele no qual alguém já foi e comentou que é bom.

No mês passado meu filho me levou a um restaurante do qual sempre falava. ____Pai, tu vai comer o melhor bacalhau que tu já comeu na tua vida. Como ele é um pouco exagerado, pensei: deve ser bom, apenas bom. Fomos. Chegando lá, em Santa Rosa, no Restaurante La Cocina, do amigo do meu filho, o Beto Fenner, deparamos com um lugar acolhedor, com o proprietário nos recebendo na entrada, com atenção de primeira, o que permaneceu até o último minuto. Aliás, a qualidade da comida, das bebidas, do atendimento, é inversamente proporcional ao tamanho da casa, que é relativamente pequena, o que a torna mais aconchegante. Entre um copo e outro comemoramos o encontro com o amigo Felipe, a Ângela e o Miguelzinho, conversando até altas horas. Afinal, a mesa que ampara os copos de vinho e de cerveja é o último reduto das palavras. O proprietário, desde criança, pegou gosto pela coisa, sempre gostou de cozinhar, promover encontro com os amigos. Um dia resolveu fazer um Curso de Gastronomia, buscou se profissionalizar em uma cidade grande, voltou, montou a casa com muito bom gosto e comanda a cozinha. O cardápio é variado, são diversas as opções gastronômicas. As massas são imperdíveis, o salmão, as pizzas. Comi um bacalhau inigualável, saboroso. E, claro, não podia faltar o bom vinho, a cerveja artesanal, servidos pelo proprietário. Quanta deferência!

Não costumo fazer apologia a quaisquer estabelecimentos comerciais em minhas crônicas, mas este do qual vos falei não é um qualquer. É uma referência, um conceito e por isso abro exceção. Porque ficamos muito satisfeitos com o atendimento, a qualidade da

comida, o preço. Chegando lá podem falar no meu nome, ou não, vão te dar uma atenção especial de qualquer maneira. É marca registra

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